domingo, 20 de setembro de 2015

Trilogia The Game Volume 1 - Anders de la Motte (2010)

O livro de setembro seria somente A Menina Submersa, mas por conta de uma promoção da Dark Side, o #TheGameDarkSide, venho aqui resenhar também o primeiro volume da trilogia. Relatos sobre a promoção mais abaixo.


The Game Volume 1 (ou O Jogo) conta a história de HP, ou Henrik Peterson e Rebecca Normén. A história começa quando HP encontra um celular perdido no trem e pega para si. Começa a receber então diversas mensagens convidando-o para jogar um jogo, e ele fica recusando, até que percebe que o remetente das mensagens sabe seu nome, pensa que é uma brincadeira feita por seu amigo Manga e aceita. O Mestre do Jogo (o remetente) diz que o Jogo consiste em executar algumas missões, receber pontos por elas (e dinheiro) e subir na classificação dos Jogadores. Como todo jogo, o Jogo tem algumas regras, e qualquer um que as burlasse, iria ser expulso do Jogo.
A primeira missão de HP é executada ali mesmo no trem, que era roubar um guarda-chuva de um homem que iria embarcar e filmar a ação com o próprio celular. Achando divertido e fruindo a adrenalina, HP executa a sua missão.
Depois de descobrir que seu amigo Manga não tem nada a ver com o Jogo, e descobrir todo o sistema de classificações, recompensas pelas missões e também a rede social secreta onde ficavam os vídeos de suas missões (onde algumas pessoas podiam assistir aos seus vídeos, fazer comentários e dar notas às suas missões, mas ele não podia ver os vídeos dos outros jogadores) HP decide continuar jogando.

Para entender, vamos falar um pouco de HP: Ele é um cara que não tem um emprego fixo, que só trabalha em McEmpregos (denominação que o autor faz e eu achei uma grande sacada) e fica neles o tempo suficiente para ser demitido e receber o seguro-desemprego. HP adora curtir a vida, ir a festas, beber, fumar maconha e jogar videogame. HP também é extremamente egoísta, acha que o mundo não lhe dá valor e adoraria ser reconhecido (ele ainda não sabe bem pelo quê). Ao mesmo tempo ele consegue ser bem inocente e com pouquíssimo senso crítico das coisas. Isso pareceu uma descrição de um adolescente revoltado pra você? Pois é, mas não, o cara tem 31 anos.

Agora vamos falar de coisa boa: Rebecca! Essa é a outra personagem a qual seguimos nessa história. O livro segue duas linhas narrativas com dois focos narrativos, de HP e Rebecca, contado em terceira pessoa, mas o narrador mais descreve os movimentos e principalmente os pensamentos deles, não sendo nem um pouco intruso. Rebecca só tem três anos a mais que HP e é muito mais responsável. Ela é policial e trabalha com segurança pessoal e no início do livro ela é promovida a uma segurança mais especial, o grupo Alfa, para assegurar pessoas mais importantes como o primeiro ministro. Mesmo sendo fodona, Rebecca esconde acontecimentos do seu passado que a perturbam, e ela começa a receber bilhetes de ódio que não a ajudam.

Falando de acontecimentos do passado, nós voltamos a HP, que teve uma infância difícil e carrega alguns traumas. Fiquei pensando se tais traumas não tenham sido a causa dessa adolescência prolongada e retardada, mas Rebecca também tem traumas e mesmo assim ela conseguiu construir uma carreira e crescer (mesmo que com inseguranças e problemas emocionais). Mas enfim, um é homem, a outra é mulher, as vivências foram diferentes, os personagens são diferentes.

A primeira parte do livro é instigante e revela poucas coisas, dá algumas dicas que só quem é muito atento pode perceber e até algumas dicas falsas. Um recurso que o autor usou para dar informações a mais sobre os personagens foi usando outros personagens pensando ou falando sobre eles. Isso só acontece duas vezes, quando o foco narrativo muda rapidamente (por poucos parágrafos) para o pensamento do psicólogo de Rebecca e mais tarde por pessoas envolvidas no Jogo, sobre HP.

Essa primeira parte do livro (que eu que separei em dois) acaba quando as narrativas de HP e Rebecca se encontram, quando ela está num carro trabalhando protegendo um cara importante e HP está em uma missão, no mesmo local. Se antes o leitor estava achando as missões de HP um pouco estranhas (tipo tirar parafusos da roda de um carro de um desconhecido), é a partir deste ponto que nós vemos que o Jogo não é "só um jogo", como pensou Henrik Petterson. Provavelmente tem intenções obscuras por trás dele.

Nesse ponto eu esperava que as histórias de HP e Rebecca se unissem, mas eles continuam vivendo suas vidas, interligados, mas separados, o que me decepcionou um pouco.
Há poucas cenas que eles estão juntos e foram as cenas que eu achei mais interessantes (fora um flashback, que não conta), porque a riqueza que a alternância de pontos de vista traz à narrativa fica mais evidente.

Então a gente vai seguindo HP e vendo que o Jogo pode estar envolvido com diversas teorias da conspiração...
Eu particularmente fui me irritando muito com o HP porque acho que ele demorou muito pra tomar algumas atitudes que acho que um protagonista razoável deveria tomar. Eu fui lendo pensando que ele ia fazer alguma coisa direito no final do livro, mas que no segundo livro ia fazer uma grande merda por causa de sua personalidade. Quando faltavam 16 páginas para o livro acabar eu pensei que ele faria tal merda naquele momento mesmo, o que seria um final surpreendente mas um pouco decepcionante. Mas Anders de la Motte conseguiu fazer um final bem diferente do que eu previa. Muito melhor, mais surpreendente e mostrando que o personagem HP pode ter finalmente se transformado.

A narrativa de HP é muito interessante, o arco de evolução do personagem não é tão um arco, mas parece uma linha reta que finalmente se transforma no final. O personagem, que me enchia muito o saco, finalmente ganha um pouco da minha empatia.
Enquanto que Rebecca é uma personagem que desde o começo ganhou a minha empatia, mas sua narrativa não é tão interessante quanto a de HP. O que se passa com Rebecca está muito mais ligado aos seus problemas emocionais, e muita coisa relacionada também a HP. O arco de evolução da personagem também está mais para linha reta que se resolve com uma simples revelação no final.

O próximo livro da trilogia, Ruído, tem a Rebecca na capa e eu espero que a personagem tenha uma narrativa mais interessante e mais destaque, porque ela merece!

Dei três estrelas para O Jogo, pois acho que o livro tem muitas qualidades, mas também alguns defeitos. Porém, aparentemente é o primeiro livro de ficção do autor. Anders de la Motte é um nerd que já trabalhou como diretor de segurança de uma companhia de TI e também como oficial de polícia e por isso fala de tais assuntos com tanta propriedade, mas em se tratando de escrita ele ainda comete alguns deslizes.
Eu que estudo cinema e principalmente escrita de roteiro, manuais de roteiro e essas coisas, consigo analisar coisas que talvez um outro leitor não perceba. Uma das regras do roteiro é mostrar a maior quantidade de informações que conseguir e não colocá-las na boca de personagens. Se pensarmos que a câmera é o narrador do filme, o narrador do livro deveria ter também esse papel, mas como o narrador de O Jogo não é nem um pouco intruso, algumas informações que ficariam muito mais naturais ditas pelo narrador, são ditas pelos personagens de forma artificial. Do tipo:

"Só não espere que eu entre nessa bobagem. Você era Manga quando entramos na escola, quando a gente costumava fumar as guimbas da sua mãe atrás do supermercado, e quando você perdeu sua virgindade com aquela gorda finlandesa em uma barraca em Hultsfred. Então é isso que você é para mim, independente do que você, sua esposa ou o seu mais recente deus pensam, ok?"

Você falaria essa fala? Nem eu. E fica principalmente estranho porque HP não é um personagem nostálgico e nunca demonstra afeto com seu amigo ou nenhuma outra pessoa.

Mas enfim, o autor está aprendendo e para um primeiro livro está mais que ótimo. Ansiosa para saber a continuidade da história, pois o Jogo continua...

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#TheGameDarkSide

O jogo é uma promoção realizada pela Dark Side Books e o canal Geek Freak. No jogo o Mestre do Jogo mandou algumas missões a serem realizadas pelos Jogadores afim de divulgar o livro. A missão 4,5 é essa aqui e a última missão, a 5, já foi executada por mim, mas outros Jogadores ainda podem executá-la até o fim do dia. Fiz o gráfico a seguir com as pontuações dos Jogadores ao longo do The Game porque ele exemplifica muito o clima do livro. Há os Jogadores disputando pelo primeiro lugar (como HP), há o Jogador no primeiro lugar (que no livro é o nº58) e há os jogadores que desistiram, que escolheram o botão azul (enquanto HP {e eu} escolheu o vermelho) que só ficaram executando as missões mais fáceis, ou também chamados de Formigas.


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Pretendo que ainda esse mês tenha a resenha do A Menina Submersa, as maiores bilheterias de 2012 e a resenha de A Feiticeira da Guerra. Estou com a vida um pouco atribulada, tendo que arrumar as minhas coisas pra me mudar de casa, mas acho que consigo. 

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